martedì, agosto 09, 2005

Breve Romance de Sonho

No sábado à noite, enquanto estava no SPA Vó e o resto da família assistia o “Criança Lambança”, peguei um livrinho para ler . O livrinho era o Breve Romance de Sonho , de Arthur Schnitzler, mais novela que romance , trata basicamente do relacionamento homem e mulher , cujo ponto polêmico é até que ponto é possível revelar os desejos mais obscuros ao parceiro, sem sofrer julgamentos ou punições.
A vida era cor de rosa para o dr. Fridolin e sua mulher, Albertine. Ambos jovens, belos, prósperos e tinham uma filhinha adorável. Exemplo típico de família burguesa perfeita em uma Viena dos anos 20. Até que, numa noite, depois de um baile de máscaras e vários goles de champanhe, Albertine decide confessar ao marido uma antiga fantasia erótica, resultante de sua atração por um estrangeiro durante uma viagem do casal. Perturbado pela história secreta de sua mulher, o dr. Fridolin sai no meio da noite para atender a um paciente em estado grave e acaba se envolvendo numa rede de eventos onde sexo e morte andam lado a lado. Quando retorna para casa, Albertina conta a ele que sonhara que estava num bacanal no qual o marido era condenado à morte. Logo após, ele revela suas desventuras para a mulher , e tudo pode parecer se encaminhar como antes , ou talvez não...Há como sair incólume de experiências como aquelas?
O mais engraçado , é que os desejos da mulher ficam apenas no plano onírico, mas que ao serem revelados , conduzem o marido a um ciúme doentio, uma busca desesperada por materializar a vingança de uma traição que fora apenas hipotética .
Trair em sonhos, em pensamentos, também é trair? Existe algum tipo de relacionamento que cale estes desejos inconscientes, essa busca interna por satisfação e delírio que alimenta e liberta os espíritos? Só é possível aceitar a plena satisfação dos desejos de forma anônima, mascarada, orgíaca, ritualística, perigosa e mortal como na sociedade secreta presente no livro? São estas algumas das reflexões que perfazem o livro. Para quem assistiu EYES WIDE SHUT (1999) (De Olhos Bem Fechados) essa história soa muito familiar , já que Stanley Kubrick se inspirou no livro de Schnitzler para escrever o roteiro. O filme acrescenta elementos à trama, tempera a questão sexual e preenche lacunas propositalmente em branco no livro. Mas eu gostei, gostei muito do filme (tirando o Tom Cruise, que quase comprometeu o resultado final, ele estava péssimo...)
Aí vai um trechinho do final do livro, logo após Fridolin revelar a esposa sua mal -fadada aventura. Após ouvir o relato do marido, ela calmamente diz:

Estou tão certa quanto suspeito que a realidade de uma noite ou mesmo de toda uma vida não significa sua verdade mais íntima”

Sim, todos nós usamos máscaras , não em sociedades secretas como no filme , mas no dia -a- dia dos nossos relacionamentos, já que pagamos um alto preço pela sinceridade absoluta.



1 comentários:

Normanda Asterixiana ha detto...

A fuder, mucca amiga, a fuder.
Será que existe sinceridade absoluta em algum lugar? Sendo assim, qual nosso padrão para julgar os mentirosos?
Difícil, não? Baci.