giovedì, marzo 25, 2010

Confira o segredo com seus olhos


Fazia alguns meses que eu não assistia a um filme que pudesse ser chamado de obra da sétima arte. Bom, isto porque a listinha das minhas últimas películas inclui Pocahontas 3-D (ou seja, Avatar), que está mais para “entretenimento visual” e Sherlock Holmes numa versão que com certeza fez Sir Conan Doyle se revirar em seu túmulo em Minstead.

Mas para minha grata surpresa, pude conferir esta semana o vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, a produção argentina/espanhola O segredo dos seus olhos, de Juan José Campanella, o mesmo diretor de Clube da Lua e o Filho da Noiva e que ultimamente parece que pegou gosto por dirigir episódios de seriados americanos, como House e Lei&Ordem.
O segredo dos seus olhos é um filme sincero, feito com um orçamento que pode ser considerado modesto, mas que conseguiu a alquimia de reunir um ótimo elenco, uma esmerada cenografia (que muitas vezes contracena sozinha, como os cafés portenhos e o edifício do Tribunal), uma cuidadosa fotografia e enquadramentos na medida certa, e ainda por cima apresentar um bom roteiro, com ótimos momentos.
Parece fácil, mas não é para qualquer um filmar uma trama policial que consegue fugir de velhos clichês, já que mistura, sendo dó nem piedade, uma divertida amostra do irônico humor argentino, uma curiosa história de amor e uma pitadinha de realidade, tendo o governo de Isabel Perón como pano de fundo e a atuação da milícia anticomunista (que recrutou a bandidagem em defesa do Estado...)
O ator Ricardo Darín (ótimo!!!) é o melancólico Benjamin Espósito, um funcionário público aposentado de um tribunal criminal que decide escrever um romance, baseado em um crime que ocorrera há 25 anos. Buscando um sentido para a vida, uma inspiração para a escrita ou só aparar as arestas, Espósito procura Irene, colega daquele passado que ele não consegue esquecer, por quem sempre nutriu um amor platônico.
Aliás, pode-se dizer que o crime/amor são os elos entre presente e passado, que se alternam continuadamente na tela e também nos olhos dos protagonistas que, muitas vezes, ocupam o lugar das palavras não ditas, principalmente por Irene e por Benjamin.
E o tempo,com suas idas e vindas, é o que traz uma maior profundidade à trama. São os 25 anos que separam o ontem e o hoje que dão o que pensar , e não há como sair do cinema sem pensar, nem que seja por um milésimo de segundo, a respeito da vida (nas palavras de Benjamin, “Como se faz para viver uma vida vazia?” “Como se faz para viver uma vida cheia de “nada”?”), da durabilidade do amor (pode ele permanecer guardado, intocado por tanto anos?) e das implicações do desejo de se fazer justiça.
E ao falar em desejo, vem a tona a questão da paixão, a palavra-chave do filme, É ela que move as personagens e que as caracteriza. E até mesmo leva ao assassino...
Sim, porque como diz o colega de Benjamin, o espirituoso Pablo Sandoval (cuja paixão é um bom e belo tragoléu) um homem “pode mudar sua face, sua casa, sua família, seu amor, sua religião, seu Deus. Mas há algo que ele não pode mudar. Ele não pode mudar a sua paixão…”
Para aqueles que discordam ou que ficaram em cima do muro, sugiro dar um pulinho ao cinema mais próximo para conhecer de perto Benjamin, Pablo , Irene e assim conferir com os próprios olhos os segredos deles.