martedì, agosto 30, 2005

Aeroportos , despedidas e duas amigas em prantos

Parece uma coisa boba, mas eu sou uma mucca que gosta muito de aeroportos. Adoro toda aquela movimentação, pessoas indo e vindo com seus carinhos e suas bagagens imensas , os sotaques estranhos que se misturam e se confundem nos cheek in , as línguas desconhecidas que entram como música leggera pelos meus ouvidos , as pessoas de todas as cores , tipos e vestimentas que dividem as mesmas poltronas na sala de espera . Uma mosaico de cores , cheiros, sons que estimulam seu último dos cinco sentidos a degustar um café caríssimo como só um aeroporto possibilita. Curioso observar os abraços apertados , as mãos que se confundem , as despedidas breves , os até logo dramáticos, o olhar das mães que vêem os filhos viajando sozinhos pela primeira vez, a dor da esposa que sabe que o marido vai trabalhar no outro lado do mundo sem data certa para o regresso (toda noite saem aviões abarrotados de mão de obra brasileira para o Japão). Risos e lágrimas acabam se misturando em mesmo portão de embarque . Inúmeras expectativas , inúmeras sensações , só uma viagem é capaz de proporcionar isso, um gosto do incerto e uma pitada de euforia concomitantemente.
E lá estava eu , perdida no meio daquela boiada , tentando dar um pouco de estabilidade a uma mui mucca amiga que se foi para meu curral natal. E na despedida, tentei não chorar , mas as muccas também choram enquanto que em centenas de outros aeroportos dolorosas despedidas se repetiam sincronicamente. A nossa, foi só mais uma. Mas foi a nossa...


martedì, agosto 23, 2005

Relembrando meus tempos de bezerrinha


Acabei de assistir Labirinto, um dos filmes clássicos cult da minha infância, marcada por filmes mágicos , cheios de aventuras e seres encantados . A Labirinto, juntam-se os Goonies, Guerra na Estrelas, ET, Caravana da Coragem, A Lenda, entre outros... (Depois veio a fase filmes de menina-moça como Alguém muito especial, Curtindo a vida adoidado, Clube dos Cinco, A garota de Rosa-Shocking ...)
O filme não é nenhuma obra-prima do gênero , o roteiro tem tudo para ser uma maravilha (menina presa em labirinto mágico para salvar irmão levado pelo rei dos duendes) , porém acaba deixando a desejar, a história carece de maior dramaticidade e o final é meio sem graça...Mas vale a pena ver o David Bowie como rei dos duendes.E a trilha sonora, sendo dele, tb é legal (Psiu, caiu um capinzinho aqui do lado: não valeria a pena ver o David Bowie de qualquer jeito?Sou uma mucca fã dele. Um dia desses ainda me dou de presente o Changes em Cd, já que os meus bolachões foram furtados... )
Ai,quanta saudade das Sessões da Tarde da minha vida...Aliás, elas devem tem sua parcela de culpa em eu ser desse jeito, já que me lembro da minha mucca vovó dizendo que o meu problema era assistir filmes demais. O problema vovó, no fundo, é que eu nunca acho que assisto o suficiente...;)



venerdì, agosto 19, 2005

Novidades do Curral Coletivo

Estive ontem lá no meu novo curral. O panamenho estava sozinho e pude ter algo semelhante a uma conversa com ele. Explico: ele sofreu um acidente aos 23 anos, passou por trocentas coisas , 27 cirurgias , próteses, tem só 20% da visão e ....a audição está lá nos 40% por cento. Gritei pra caramba, mas acho que ele não me ouviu totalmente. Tirando isso, fiquei impressionada com alegria dele em viver , com a energia legal apesar do horrível acidente e das limitações que lhe foram impostas. Ele é gente finissima,porém, parece que terá que ir embora. Lamentável, gostei mesmo dele... Parece que mandaram uma outra mucca para o apto. , provavelmente para a vaga dele, já que a minha é a do cara que "talvez volte, talvez não" (ontem descobri que ele não volta, e como o prazo de permanência do panamenho está acabando, parece que ele terá que sair. Pena! ) Não sei nada da mucca nova. Tomara que ela seja uma pacata mucca holandesa. . Enfim, não há muita certeza, mas voltarei lá na terça para descobrir o que anda rolando. As malas e a cuia só vou levar no dia 30, quando voltar de uma curta viagem,onde conhecerei os novos currais privativos de duas pessoas que adoro muito .
Até lá , ficarei ruminando e mastigando meu capinzinho com calma, porque as muccas nada ganham quando sofrem por antecipação.

mercoledì, agosto 17, 2005

Curral novo, vida nova?


Do amanhã nada sei e meus planos não ultrapassam uma semana, pelo menos por enquanto.Agenda se tornou algo inútil , um monte de folhas em branco , com horários enternamente livres. Por enquanto, meu curral privativo é um sonho distante. Descolei uma baia, minúscula, em um curral coletivo, cercada de três bovinos machos desconhecidos. Um , é panamenho, outro sul-matogrossense , o do terceiro só sei que "talvez ele volte, talvez não". Meu querido papá ficou preocupado, afinal, sua bezerrinha no meio de uma boiada ? Nem pensar. Pois é , é complicado. Privacidade nenhuma, companheirismo zero. Todos estranhos, estranhos no ninho.
Fico pensando se preciso necessariamente aceitar isso, se não é mais cômodo, mais fácil, menos angustiante ficar onde estou ou voltar para onde estava...Mas até que ponto a vida não está exigindo isso de mim, uma renúncia total de tudo, um recomeço difícil e caótico, incerto e imprevisto?
Espero poder dizer que fiz a escolha certa , que não dei mas uma cabeçada na cerca de arame farpado, ou que me atolei no brejo ...Ainda não sei, nada a mugir no momento. Mais uma vez, não sei como são os pastos que me aguardam. Verdejantes?Altos?Secos? Pedregosos? Solitários? Populosos?Nescio...
E não sei até quando ficarei assim, errando, de pasto, em pasto, de curral , em curral a espera de algo, de alguma coisa que se aproxime ,mesmo que vagamente, a estabilidade e segurança...


lunedì, agosto 15, 2005

O presente entalado na garganta


Nunca fui de acreditar em maré de azar, sempre achei que os acontecimentos são decorrentes de nossas escolhas e obedecem a uma simples lei da física : ação e reação ( traduzindo , "quem procura, acha"ou "quem planta , colhe"). Se vc agir de determinado modo, o resultado será proporcional a sua ação. Mas, atualmente, tudo está fugindo de leis, de regras , de probabilidades a ponto de eu me perguntar se realmente isso não é de fato uma puta duma maré de azar. Ou então, se eu fosse mais espiritualizada, poderia alegar "é o carma" , mas como eu sou cética até que me provem o contrário, prefiro acreditar que andei passando debaixo de escadas demais pro gosto do destino.
Hoje tive a notícia que me curral provisório já era. Restou a opção de morar com uma boiada em um curral minúsculo...O mais nice é que, apesar de tudo, as pessoas que me meteram nessa fria ainda me deram esse testículo meigo, que se não fosse a tragi-cômica ocasião até leria sem maiores traumas (até porque amo Mário Quintana) . Mas quando o li, a minha vontade era de fazer alguém engolir aquilo, sem sal nem vinagre , no seco , para que ela visse o que é o presente engasgar e ficar entalado na garganta...
Idade para ser feliz
Mário Quintana
Existe somente uma idade para a gente ser feliz.
Somente uma época na vida de cada pessoa Em que é possível sonhar e fazer planos E ter energia bastante para realiza-los.
Uma só idade para a gente se encantar com a vida E viver apaixonadamente E desfrutar tudo com toda intensidade Sem medo nem culpa de sentir prazer.
Fase dourada em que a gente Pode criar e recriar a vida a nossa própria imagem e semelhança e vestir-se com todas as cores e experimentar todos os sabores e entregar-se a todos os amores sem preconceito nem pudor.
Tempo de entusiasmo e coragem Em que todo desafio é mais um convite a luta Que a gente enfrenta com toda disposição De tentar algo novo, de novo e de novo E quantas vezes for preciso.
Essa idade tão fugaz na vida da gente Chama-se presente. E tem a duração do instante que passa.


venerdì, agosto 12, 2005

Gisele Bündchen é uma baleia (na Argentina)

Os padrões de beleza atuais são cada vez mais assustadores, para chegar a essa conclusão basta acompanhar a mídia que passou a tachar de "cheinhas" mulheres sempre tidas como referência de beleza e saúde .Curvas são algo impensável, coxas e quadris terminantemente proibidos, seios naturais artigo raro (ou é de silicone ou não é seio, hábito importado do USA. Não basta ser bela, vc tem que ser esquelética , quase um modelo para aulas de anatomia óssea.

E esse panorama se reflete na indústria , que seguindo as tendências deixou de fabricar roupas em tamanhos até então considerados normais. Esta cada vez mais complicado achar roupas em tamanhos acima dos 42, é só ir até uma arara de uma grande loja de departamentos para observar esse fato. Vc encontra quinze peças no tamanho PP, dez no P, umas cinco em tamanho M e quando muito , duas ou três em tamanho G. GG , nem pensar , só em lojas especializadas.

A Veja dessa semana tem uma matéria intitulada "Fofinhas , só por decreto " que dá um panorama desse absurdo, culminante em uma lei por parte da Assembléia Legislativa de Buenos Aires obrigando as fábricas de vestuário a produzir, e as lojas a expor nas vitrines e manter em estoque, tamanhos que vão do 38 ao 48. As lojas só tinham roupas em tamanho único (molde esquelético) ou então em padronagens vagas como P, M e G. Além disso, as roupas de manequim 44 em diante são mais caras que as de 36. Essa foi uma medida enérgica, mas necessária já que a Argentina está em segundo lugar no ranking mundial (atrás apenas do Japão) de distúrbios alimentares. Para as argentinas, ser magra é uma questão de status quo, se vc está fora dos padrões sociais de beleza será condenada ao ostracismo e a infelicidade permanente de uma vida em dietas.

O mais preocupante é que os fabricantes e lojistas de roupas advertem que essa nova padronagem irá ficar encalhada nas araras e prateleiras , já que não existe demanda para tamanhos grandes ...Será prejuízo na certa, já que mulheres de carne e osso estão em falta no mercado argentino.

martedì, agosto 09, 2005

Breve Romance de Sonho

No sábado à noite, enquanto estava no SPA Vó e o resto da família assistia o “Criança Lambança”, peguei um livrinho para ler . O livrinho era o Breve Romance de Sonho , de Arthur Schnitzler, mais novela que romance , trata basicamente do relacionamento homem e mulher , cujo ponto polêmico é até que ponto é possível revelar os desejos mais obscuros ao parceiro, sem sofrer julgamentos ou punições.
A vida era cor de rosa para o dr. Fridolin e sua mulher, Albertine. Ambos jovens, belos, prósperos e tinham uma filhinha adorável. Exemplo típico de família burguesa perfeita em uma Viena dos anos 20. Até que, numa noite, depois de um baile de máscaras e vários goles de champanhe, Albertine decide confessar ao marido uma antiga fantasia erótica, resultante de sua atração por um estrangeiro durante uma viagem do casal. Perturbado pela história secreta de sua mulher, o dr. Fridolin sai no meio da noite para atender a um paciente em estado grave e acaba se envolvendo numa rede de eventos onde sexo e morte andam lado a lado. Quando retorna para casa, Albertina conta a ele que sonhara que estava num bacanal no qual o marido era condenado à morte. Logo após, ele revela suas desventuras para a mulher , e tudo pode parecer se encaminhar como antes , ou talvez não...Há como sair incólume de experiências como aquelas?
O mais engraçado , é que os desejos da mulher ficam apenas no plano onírico, mas que ao serem revelados , conduzem o marido a um ciúme doentio, uma busca desesperada por materializar a vingança de uma traição que fora apenas hipotética .
Trair em sonhos, em pensamentos, também é trair? Existe algum tipo de relacionamento que cale estes desejos inconscientes, essa busca interna por satisfação e delírio que alimenta e liberta os espíritos? Só é possível aceitar a plena satisfação dos desejos de forma anônima, mascarada, orgíaca, ritualística, perigosa e mortal como na sociedade secreta presente no livro? São estas algumas das reflexões que perfazem o livro. Para quem assistiu EYES WIDE SHUT (1999) (De Olhos Bem Fechados) essa história soa muito familiar , já que Stanley Kubrick se inspirou no livro de Schnitzler para escrever o roteiro. O filme acrescenta elementos à trama, tempera a questão sexual e preenche lacunas propositalmente em branco no livro. Mas eu gostei, gostei muito do filme (tirando o Tom Cruise, que quase comprometeu o resultado final, ele estava péssimo...)
Aí vai um trechinho do final do livro, logo após Fridolin revelar a esposa sua mal -fadada aventura. Após ouvir o relato do marido, ela calmamente diz:

Estou tão certa quanto suspeito que a realidade de uma noite ou mesmo de toda uma vida não significa sua verdade mais íntima”

Sim, todos nós usamos máscaras , não em sociedades secretas como no filme , mas no dia -a- dia dos nossos relacionamentos, já que pagamos um alto preço pela sinceridade absoluta.



SPA Vó

Desculpas àqueles que não tem vovós, mas não posso deixar de explicar o motivo do meu sumiço. Após a inusitada formatura do meu irmão bovino (muito inusitada, diga-se de passagem, fatos incríveis occorreram nesse dia,como, por exemplo, o paraninfo imitar a vocalização de um bugio macho em defesa do território...), fiquei três dias no meu SPA Vó. O SPA vó é onde vou recarregar as baterias, relaxar e recordar a infância, onde eu sem querer sabia o que era paz e proteção.
Para os de dieta, o SPA Vó não é recomendável,já que lá se come muito e muito bem daquela comidinha caseira que só as avós sabem os segredos. Fora os doces , que minha vó sendo portuguesa faz bem como ninguém.
Ah como sinto falta do SPA Vó da minha infância! Naquela época não via no olhar dela a preocupação que ela carrega hoje. E o pior, eu sou o motivo...


giovedì, agosto 04, 2005

Eu sou uma mucca de porcelana

Sim, eu me sinto uma mucca de porcelana. Mas uma boa mucca, uma mucca tipo exportação , padrão 1º mundo, não uma de loja de RS 1,99 , que ao cair no chão se parte em mil estilhaços e se torna totalmente irreconhecível. Minha porcelana é de qualidade, já que eu caio e me parto em vários cacos , mas que ao serem unidos , se encaixam perfeitamente , reconstituindo a mucca tal qual era antes. Como sinal do desastre, fica apenas a marca da cola, que mesmo assim fica imperceptível com o tempo...
Hoje eu me sinto assim, uma mucca colada , com a cola ainda escorrendo pelas rachaduras, já que o acidente é recente, muito recente. Mas, teoricamente , ainda sou uma mucca inteira. Mesmo que feita de mil pedaços...


martedì, agosto 02, 2005

O que só os quadrinhos fazem pelo cinema e vice-versa




Acabei de assistir Sin City e confesso que fiquei o tempo todo com um sorriso de orelha a orelha. Pela primeira vez na vida o cinema fez jus ao poder da linguagem dos quadrinhos e deu a ela o seu devido respeito. Sem sombra de dúvida, a melhor adaptação dos quadrinhos para o cinema, até agora. E eu posso afirmar isso com certa propriedade, pois conheço a série , as histórias, os personagens, a estética noir peculiar de Frank Miller ...
Cinema e quadrinhos são dois meios diferentes, cada qual com sua sistemática e suas características próprias que os definem como gênero. Até agora, todas as adaptações simplesmente traduziam a linguagem dos quadrinhos em linguagem cinematográfica convencional , deixando de lado todos os elementos inerentes aos quadrinhos, transportando apenas situações e personagens para a grande tela. E eu , sempre e eterna fã de quadrinhos, sempre fiquei desapontada com todas as adaptações (até hoje). Não sei se consigo, mas vou tentar definir porque acho que Sin City é genial :
1) Os diretores respeitaram a linguagem dos quadrinhos (talvez porque Frank Miller fosse um deles, enfim), ela não foi subvertida ou essencialmente modificada. Foram preservados os "diálogos" mentais do quadrinhos, os pensamentos importantíssimos para a construção dos personagens ( o recurso foi o voice-over ), a cenografia, o andamento, e sobretudo a estética de Miller , mantendo luz , enquadramento, cores, os mesmos recursos visuais de ênfase , suspense, destaque psicológico dos personagens... A sensação é que vc está vendo os quadrinhos em três dimensões.
2) O elenco é de primeira e todos eles parecem ter incorporado o espírito da coisa. Merecem destaque as representações do Mickey Rourke e do Bruce Willis, além do Benicio Del Toro e Rosario Dawson, que tb matam a pau.
3) È uma produção impecável, certinha, sem exageros e que não fica devendo nada aos fãs da série e , acho , acaba agradando quem nunca leu Sin City pelo simples fato de ser uma novidade muito interessante .
Um aviso aos navegantes de Marte : como o nome diz , “Sin City” é a cidade do pecado. Não há mocinhos , nem bandidos, não há inocência nem piedade, não há uma fronteira rígida delimitando o bem e mal. Nas ruas de Sin City o instinto vale mais que o bom senso. A lei que impera é a da sobrevivência e a do olho por olho (que às vezes acabam sendo a mesma coisa) e por isso é violento sim, muito violento, uma violência brutal e primitiva. E justamente por ter o pior do ser humano diante dos olhos que a série é toda em preto-e-branco, e como não poderia deixar de ser, o filme tb...