sabato, febbraio 21, 2009

Ficcionando...


Pois bem, caros amigos bovinos. Não tinha postado nada até agora(mea culpa, mea culpa) por n motivos(ou a falta deles). E enquanto estava aqui, em pleno Carnaval, sem botar o bloco na rua e sem esperar a Mangueira entrar (a escola, a escola...hehehe)resolvi ficcionar um pouco e saiu um testículo, meio fraquinho, pois estou fora de forma. Mas pretendo recuperar o ritmo e logo , logo coisitas bem rumidas devem sair das minhas entranhas...
Boa leitura para quem se aventurar, por conta e risco. Não assumo a responsabilidade por qualquer mal estar causado pelo texto abaixo. O enjôo(tem acento???) é todo de vcs!



Descobertas astronômicas a olho nu

Desperto e esqueço. Sempre é assim. Na boca, o gosto amargo de uma noite mal dormida, whisky barato e duas carteiras e meia de cigarro sem filtro.
Ainda sonado, observo os raios de sol entrando pelos buracos da janela. Eles iluminam o corpo feminino e nu que resfolegava no lado esquerdo da cama. Pele branca, longos cabelos ruivos. O rosto, delicado e quase infantil, se ocultava na pesada maquiagem, agora borrada.O seu peito subia e descia, compassado, alheio as vozes, aos cheios, a luz que vinha do mundo lá de fora. O mundo que não nos pertencia e que estava além do provisório reino mágico, em que era o seu consorte, seu cavaleiro, seu príncipe, o seu bobo da corte. Onde eu era um lobo faminto, que corria pelas pradarias do seu corpo, uivando para uma lua imaginária que refletia nos seus olhos.
Ela se moveu, suave como uma folha ao vento, gemeu e com as pálpebras ainda fechadas falou baixinho, meio rouca: - Eu ainda estou aqui.
Me aproximei do seu corpo, e olhando então para os grandes olhos azuis que agora me fitavam desconcertados, limitei-me a sorrir. E quase que automaticamente beijei aqueles lábios com gosto de noite. Ela passou o braço em torno do meu pescoço, e com as unhas compridas me fez uma carícia quase felina, esperando alguma reação da pobre presa, eu, homem, maduro, estranho, confuso e emocionalmente retardado.
Levantei bruscamente, fui até a mesinha, acendi um cigarro e cruzei minhas pernas, nu, esperando que a nicotina clareasse as minhas idéias e me desse alguma resposta de como eu deveria agir.
O fato é que um ser etéreo tinha batido a minha porta ás duas da manhã, claro, após um telefonema meu, e me concedera o meu único e obsceno desejo: te-la por uma única e longa noite. E apenas uma.
Ela, grande amiga, sempre fora uma ótima companhia, bem-humorada, descolada, interessante, perspicaz. Não que ela não fosse, como mulher, digna de mil e uma noites. Até mais, talvez. Só que não para mim. E esta era uma das três regras que eu nunca quebrava. As outras duas se referiam a traseiros masculinos e empréstimo de material fonográfico. E este sou eu, meus amigos, claro, não apenas isso. Mas não quero falar sobre mim, não agora. Qualquer tentativa de definição sempre soa falsa ou egocêntrica. Contudo, basta para dar uma ideia dos meus interesses e para deixar bem claro que qualquer expectativa quanto a sua permanência naquela cama estava prestes a ser frustrada.
Era melhor assim. Uma noite, uma garota. Outra noite, outra garota. E assim passava meus dias, sem arranhões, feridas expostas, sonhos dilacerados e relacionamentos baseados em valores duvidosos. Eu me sentia livre, dono de mim, com o controle absoluto da minha mente, do meu corpo e do meu coração, por assim dizer. O curioso é que a companhia dela, neste meu mundo diversificado, tinha sido uma constante. Só que agora, a fronteira tinha sido ultrapassada, e era chegada a hora de cortar todo e qualquer contato.Medidas drásticas são necessárias para se manter as coisas nos seus devidos lugares, sempre.
Ela me olhava, com seus olhos arregalados, misto de apreensão e desejo. Eu apenas tragava a fumaça, e olhava para o teto, procurando me convencer de que tudo corria como deveria ser.
Que dentro de alguns minutos ela iria levantar, vestir-se e sair pela porta. Afinal, ela, melhor do que ninguém, sabia como as coisas funcionam. E eu iria esquecer aquela boca, aquela pele. Aquele perfume no meu travesseiro. Não me lembraria das palavras doces, dos segredos trocados, dos gostos semelhantes, da extrema afinidade em encarar a vida, as pessoas, os obstáculos. Nem ao menos iria passar pela minha cabeça que por um instante as palavras “perfeita para mim” piscaram mais de uma vez, como letreiros luminosos, durante nossos longos meses de colóquios, cinemas, filmes, música, cafés, parceria.
Iria esquecer que numa madrugada fria um ser híbrido e mutante: fada, feiticeira, sacerdotisa, mundana, me fez flutuar na imensidão do espaço . E o pior de tudo, é que ainda estava anos – luz, esperando pela próxima viagem. Talvez no rabo de um cometa ou em uma nave espacial. Mas o mais provável é que a minha carona fosse um corpo repleto de curvas que naquele instante se movia na minha direção, entrando em meu campo gravitacional.
E então ela explodiu como uma supernova no meu colo, mudando para todo sempre a configuração da minha galáxia...