venerdì, settembre 02, 2005

Amigos e palavras ruminantes

Me tornei uma mucca solitária. Força do destino, das escolhas , dos acontecimentos, enfim, stranger in stranger land (nem tão estranha, diga-se de passagem, já adquiri uma certa intimidade com esses campos, mas meu curral sim, ele é novo e desconhecido).
Meus amigos estão longe e estou tentando passar a maior parte do tempo afastada da única pessoa que aqui conheço, ou seja, estou sozinha, no sentido mais literal da palavra. Desta forma, percebo cada vez mais que amigos são bons, muito bons , seguram nossas piores barras, nos dão forças para lutar pelos nossos sonhos, nos conhecem como nem nós mesmos poderíamos ousar nos conhecermos . São cúmplices nas boas e más horas , piadistas profissionais e animadores de velório quando necessitamos, entram para nossa tribo em programas de índio que nem a FUNASA aprovaria, agüentam namorados e pais malas, tudo em benefício da política de boa vizinhança. E eu ainda acredito em tudo isso. Acredito nos amigos, na força que só eles nos transmitem, no poder de suas palavras e dos seus abraços carinhosos. Sim, eu tenho poucos e ótimos amigos que sempre que podem me mandam sinal de fumaça, mensagens de carinho , de amparo ou ao menos sei que pensam em mim e se perguntam à noite, mentalmente, no silêncio de seus quartos se eu passei um bom dia ou se estou me virando bem sozinha e longe de todos. Mas nenhuma amizade é perfeita , amigos e também erram , também machucam . Às vezes , não sabem como demonstrar que me amam, e ao fazer isso usam meios extremados e rudes, que eu compreendo como apenas uma maneira não –ortodoxa de dizer que se preocupam comigo. Sim, prefiro encarar por esse ângulo a acreditar que minha amiga de longa data, que sempre cunhei irmã, simplesmente me disse que não quer mais me ver nem falar comigo enquanto não der um jeito na minha vida ... O que , é absurdamente estranho, já que o jeito da minha vida , cabe a mim decidir ...Bom, entendo ela condenar minhas atitudes , minhas escolhas , mas me culpar pela sua infelicidade , aí já é demais... Bom, só posso pensar que se a minha vida a deixa infeliz , o melhor seja eu me afastar, pelo menos por uns tempos. Mas sei que ela nunca reconhecerá que o problema não é o que eu faço com a minha vida , mas sim o que ela não faz com a dela...
Mesmo que minha amiga me ignore pelo messenger ou faça piadas sarcásticas ao meu respeito, nunca perderá o status de amiga. E sim, pode parecer que não, mas ela é e sempre será minha amiga . Tenho muitos anos de convivência legitimando essa minha afirmação. Ela só tá com medo, medo de mim, porque sou uma mucca livre , não tenho cordas que me prendam, nem cercas que me confinem. Não temo o frio, nem a chuva, nem o abatedouro. Nem ao menos os períodos de vacas magras. Não fui marcada com ferro em brasa , nem estou amarrada em nenhum potreiro. E nem ao menos estou atolada no brejo, com ela julga que eu esteja. Não julgo, não cobro, não condeno. E isso não é ruim, não é o fim do mundo. Não, não é nada disso.
Parece que meus valores bovinos são diferentes do que os dela, nem piores , nem melhores, apenas diferentes de tudo que ela considera bom ou apreciável.Parece que para ela o conceito de diversidade que constitui o rebanho é por ela totalmente negligenciado. Ainda bem que somos todos diferentes, não apenas um amontoado de patas, rabos e chifres. Temos o direito de seguir os caminhos que nossos cascos escolherem, afinal, cada bovino sabe quantas mosquinhas o acompanha...Afinal, não cabe a nenhum ruminante condenar o pasto alheio. Cada qual sabe o tamanho de sua fome e de que tipo de pasto precisa. Nenhum ruminante rumina da mesma forma, nem ao mesmo tempo. Alguns bovinos têm uma digestão mais lenta, mastigam muitas e muitas vezes o pasto, e demoram muito e muito tempo até absorver todo os nutrientes dos alimentos.Tem aqueles que comem depressa e com voracidade , já de olho no cocho do vizinho. Há os que se contentam com pouco pasto e nunca anseiam montanhas verdes e infinitas de feno. Outros, experimentam pastos de todo e qualquer tipo, a ponto de não saber se há um tipo de pasto favorito entre os demais. Há também aqueles boizinhos que comem o mesmo pasto durante muito e muitos anos , em quantidades enormes, até o dia em que descobrem a ração e nunca mais mastigam um capinzinho novamente , com se a vida toda apenas tivessem comido ração e mais nada. Somos todos um grande rebanho, aparentemente muito iguais , mas profundamente diferentes . E respeitar as diferenças é regra básica de boa convivência. E nem é preciso dizer que nem todo amigo conhece essa regra, já que muitas vezes vê no outro uma extensão de si mesmo. Ou então, preocupado com o tempo ou com o pasto que o amigo consome, ele sente-se no dever de ensiná-lo como ruminar e o que comer . Mas, cada qual tem o seu pasto, arranjado ou de direito, pouco importa. Cada cocho é único, intransferível .
E a minha amiga, em sua pouca experiência ruminante, não percebe essas pequenas coisas da vida. Desejo a ela que tudo isso passe, e que ela volte a balançar o rabinho, e a mugir contente, sem se importar seriamente com os caminhos que meus cascos escolheram....


3 comentários:

Anonimo ha detto...

É nessas horas que a gente se questiona sobre quem é que está realmente na pior situação. Só quero ver depois que a roda da fortuna girar de novo... : P

De qualquer jeito, a Mucca tá de parabéns. Devolver na mesma moeda é ficar igual à sua amiga.

Só espero que ela o esteja fazendo porque está numa fase ruim, e não porque resolveu te abandonar.

Samara L. ha detto...

Você é muito mais tolerante que eu. Quem sabe, olhando, eu aprendo. Mas saiba, minha doce e querida Mucca amiga - eu estou por aqui, ainda que longe fisicamente, mas torcendo sempre e sempre pelo seu sucesso. E, assim que conseguir a porra do curral próprio, mi baia es su baia. Te amo. Beijos.

Bellit ha detto...

Bom, jamais conseguiria devolver na mesma moeda pois não é da minha natureza. E sim, sou tolerante como toda boa mucca...