martedì, settembre 27, 2005

História para boi dormir - Parte II





Solidão amiga do peito /Me dê tudo que eu tenha por direito /Me diga, me ensina


O Frejat não é nenhum Cazuza, mas tenho que dar o braço a torcer, ás vezes ele consegue juntar poesia e filosofia em suas letras , como no caso acima. Afinal, a solidão não é nada fácil de ser encarada , e analisá-la em uma perspectiva positiva é algo que não ocorre com freqüência no dia a dia , na real, ela é difícil de encarar mesmo. Afinal, crescemos dentro de uma noção de que "ninguém é uma ilha" , que devemos buscar estabelecer laços, relações, um nível mínimo de interação que seja , com as demais cabeças do rebanho. Quem se opõe ou não consegue estabelecer vínculos de qualquer ordem com os demais acaba por ser tachado de estranho. E ninguém, no fundo, no fundo, quer ser estranho; todos nós queremos é amar e ser amados.
Assim sendo, ser ou estar sozinho não é uma condição a ser deliberadamente e calmamente aceita. Quase todo mundo luta contra isso, mesmo que inconscientemente . Há praticamente uma necessidade inerente aos bovinos de combater a solidão, e desde de Aristóteles é reconhecida tal necessidade , uma condição essencial da vida: se associar a outros membros do rebanho. Todo bovino sente essa compulsão natural de estar entre outros de sua espécie. Como prova material desse fato bares , restaurantes, cinemas, shoppings estão sempre lotados. Assim como caixas de e-mail e secretárias eletrônicas . É uma tendência natural sempre expandir nosso círculo de relações, afinal, precisamos falar, tocar , rir, chorar junto de algum outro bovino. È fato, ninguém troca uma bela conversa a dois , a quatro, a seis por um monólogo em uma noite fria de inverno.
Porém, essa necessidade de interação acaba por criar um temor da solidão que muitas vezes acaba nos levando a estabelecer e a manter relacionamentos fadados a desgraça, ao sofrimento, ao tédio, a frustração. Movidos pela necessidade de estar acompanhado , permitimos que pessoas e relacionamentos errados façam parte da nossa história pessoal. E não falo apenas dos relacionamentos amorosos não, isso ocorre também no âmbito das amizades. Uma explicação para isso reside no fato de que pelo simples medo de ficarmos sozinhos , deixamos de lado o velho ditado "antes só do que mal acompanhado" e muitas vezes ficamos anos e anos em relacionamentos ruins alegando amor, costume, carência, necessidade de companheirismo quando na realidade a verdadeira razão para tal postura é o medo inconsciente da solidão , que vai de encontro ao desejo inato. O pior é que a pessoa tem plena consciência de que aquele relacionamento não a faz feliz , mas mesmo assim o mantém. Covardia ou conveniência? Atire a primeira pedra quem jamais passou por algo semelhante em suas pastagens. ..
Admitamos uma verdade : ninguém (ou quase ninguém ) leva o fato de estar sozinho numa boa. E quem está sozinho sempre se angustia pelo fato e lamenta muito, e busca alguém para fazer companhia de qualquer jeito seja "por mar , por terra , ou via embratel " (evocando Cazuza em "Solidão que Nada", nada mais oportuno...) . Afinal, é de fato muito triste e chato não ter ninguém com quem dividir os bons momentos da vida : aquele cd raro de barbada, a nota A no TCC, o novo emprego do sonhos, o filme do ano ou simplesmente os comentário prosaicos do cotidiano, assim como também é horrível não ter ninguém disponível para secar as lágrimas, te dar uma abraço e dizer que está tudo bem naqueles dias em que vc manifesta seu lado maníaco-obsessivo e vc tenta encontrar um sentido qualquer , ou as respostas de perguntas como "qual é a razão da vida" ou "Por que raios hoje é segunda-feira?"
Sim, é fato. Ser ou estar sozinho não é a melhor coisa do mundo. Mas se vc seguir o embalo da música do Frejat, estar ou ser sozinho pode ser um modo de desfrutar a companhia de si mesmo, de se auto-conhecer e de deslocar toda a atenção para satisfazer um único ruminante: você. Claro que se vc não se acha merecedor de todas as atenções que vc dar , ser/estar sozinho se torna uma vera tortura, porque vc parte do princípio de que vc não é uma boa companhia para vc mesmo. Mas se dê uma chance , tente descobrir o que esse bovino aparentemente sem graça e batido pode oferecer. Proporcione a ele experiências incríveis , momentos prazerosos, alegrias e mimos que vc despenderia a outro ruminante (que talvez nem merecesse, aliás) . E se esse apelo sentimental soa piegas demais, levemos a coisa para o lado prático. Se vc está sozinho e não desfruta de sua própria companhia vc acaba perdendo inúmeras oportunidades . Quantas vezes não deixamos de fazer um programa legal , assistir um filme, ir ao teatro ou tomar uma cervejinha amiga só porque não temos companhia? Taí, esse é um motivo prático e objetivo para estimular um convite a si mesmo. Até porque , ás vezes um período de solidão é o único modo de recuperar coisas que vc perdeu ou deixou de dar a devida atenção em virtude de relacionamentos. Assim, quando vc estabelecer uma relação novamente , vc não estará com esse alguém por puro medo da solidão ou carência (ou o nome que vc queira inventar) , mas sim porque já desfrutou da melhor das companhias e agora é chegada a hora de proporcionar aos outros o prazer de compartilhar dela . ..

1 comentários:

Anonimo ha detto...

Brilhante!

Já tive momentos de muita solidão, de me sentir sozinho mesmo rodeado de gente.

Por isso que não me sinto mal nessa fase atual. A despeito de uma eventual carência de pessoas, estou melhor do que estive a alguns anos atrás - esses sim, anos solitários.