sabato, settembre 10, 2005

Lavoura Arcaica para quem tem DVD


O livro já era maravilhoso, de tirar o fôlego e desconcertar a mente. Agora, para quem perdeu as quase três horas de filme no cinema, está chegando em dvd Lavoura Arcaica (2001). Uma história de dor, de amor e de culpa. E também de desejo, de desejos proibidos e da ousadia, entendida quase como uma loucura diante de um mundo repleto de tradições imutáveis e dogmas norteadores e castradores dos instintos, da natureza individual. Um embate entre ser e o alto preço por libertar os desejos mais profundos, a culpa e a redenção que o transgredir imputem a alma.
O filme se propôs a tentar transpor para a grande tela a grandiosidade do livro, tendo uma produção esmerada, refinada, com uma fotografia nunca ousada no cinema nacional, fazendo uso de dos efeitos de iluminação com fins dramáticos, buscando com efeitos como a imagem distorcida, os closes, o contraste de luz e sombra transmitir ao espectador toda a intensidade dramática da narrativa, revelando em pequenos quadros a psique das personagens, que se fundem ao cenário e se confundem com esse em muitas cenas. Uma obra de arte, quase um quadro em movimento. E é para o deleite de poucos, com certeza, tamanho o refinamento e a poeticidade que o diretor Luis Fernando de Carvalho deu as palavras de Nassar.
O diretor é por si uma figura a parte. Demorou uma tempão na edição de Os Maias para dvd, já que não queria que a singularidade do seu trabalho sofresse a pressão do mundo atual, onde o descartável toma conta do cotidiano. Ele mesmo destaca que o tempo que as pessoas dedicam ao prazer é cada vez mais breve, instantâneo.Para ele é inaceitável que uma obra que demorou um certo tempo para ser concretizada surja como item de consumo da noite pro dia. E era de se esperar que para uma obra primorosa como Lavoura, ele tb se dedicasse com igual afinco. Não sei se alguns efeitos de luz não se perderam com a passagem para uma nova mídia, mas mesmo assim, faço questão de conferir de novo e gravar na retina para todo sempre a intensidade das imagens que traduzem as força transgressora de André e seu amor destrutivo, proibido, deturpado, que se materializa na figura de Ana: "(...) e quando menos se esperava, Ana surgiu impaciente numa só lufada, os cabelos soltos espalhando lavas, ligeiramente apanhados num dos lados por um coalho de sangue (que assimetria mais provocadora!), toda ela ostentando um deboche exuberante (...), anéis nos dedos, outros aros nos tornozelos, foi assim que Ana (...) tomou de assalto a minha festa, varando com a peste no corpo o círculo que dançava, (...) assombrando os olhares de espanto (...), seus passos precisos de cigana se deslocando no meio da roda (...), roubou de um circundante a sua taça, logo derramando sobre os ombros nus o vinho lento, obrigando a flauta a um apressado retrocesso lânguido (...)”.




1 comentários:

Samara L. ha detto...

Show. O filme é ótimo e o livro melhor ainda...