martedì, giugno 20, 2006

Muitas pinceladas e alguns milhões depois



Não é nenhuma novidade, mas é perturbador saber que há uma infindável lista de artistas que morreram sem ter o devido reconhecimento e que anos, ás vezes séculos depois, se tornam marcos na história, sendo cultuados, imitados, popularizados a exaustão. Desta lista fazem parte nomes de pintores (Rembrandt) escultores (Camille Claudel), músicos (Mozart), escritores (Cervantes), poetas (Rimbaud) que não sobreviveram para colher os louros de suas criações. Obras outrora vistas com desprezo tornam-se objetos de desejo, artigos de luxo de colecionadores, peças de museus renomados. E hoje, ao ler essa notícia, tive mais uma vez a comprovação de que muitos artistas realmente adquirem prestígio e reconhecimento (ao menos financeiro) apenas post mortem.

Um dos meus artistas favoritos é justamente ele, Gustav Klimt, pintor, gravador, grande e exímio desenhista, inventor de inovadores e arrojados projetos de decoração arquitetônica, que no início do século XX, apesar do inegável, maravilhoso e obsceno talento, também não colheu em vida os louros do merecidos. Foi um artista claramente vanguardista, um avant-garde do seu próprio tempo, e como tal, teve a incompreensão geral dos seus contemporâneos. Fez algumas obras por encomenda, mas nada que garantisse muito lucro, já que teve muitas obras criticadas pelos acadêmicos e conservadores de plantão. Isso não ocorreu à toa, uma vez que Klimt colocou em choque o grande público do início do século 20 com sua pintura sutilmente erótica, as vezes não tão sutilmente, diga-se de passagem...

Apaixonado por ruivas, elas foram suas musas inspiradoras, retratos da feminilidade, símbolo e expressão da sensualidade marcante e declarada, expressando sem ressalvas o prazer e a volúpia.Mas não foram as únicas.já que também temos loiras e morenas . Para Klimt, a ótica do mundo, a compreensão dos mistérios da vida tinham uma aparência feminina, assim, vida, morte, prazer, doença, são associadas a figuras femininas.

O pai era um grande artífice que trabalhava no entalhe de ouro e prata, e foi quem transmitiu ao pintor a alma de artista,. A influência do pai é tão grande que pode ser observada em alguns quadros com fortes tonalidades de ouro e prata, um tom metalizado que evoca o oficio do pai e ao mesmo tempo concede a pintura um ar etéreo, uma luminosidade única e inconfundível, diria até que é sua marca registrada, e que funciona com perfeição para construir o erotismo em suas belas mulheres. . Ninguém consegue usar o dourado com aquelas pinceladas precisas, com aquelas tonalidades que vão do amarelo dourado a ocre sem que se distinga onde começa e termina cada traço.

Klimt foi um grande fator de influência no movimento da Art Noveau como da Art Deco, pelo aspecto por excelência decorativo de sua obra. Seus personagens flutuam em suas telas, fluidos como água, leves e etéreos como um sonho, talvez reflexo de um evidente diálogo com o Simbolismo. .O seu estilo original mesclava mosaicos bizantinos e composições geométricas gregas (arcaicas, na verdade), que resultavam em uma textura bastante intrigante, em quebras de continuidade espacial, característica mais peculiar do seu estilo. E em um ano em que um quadro do artista atinge tal valor, ele ganha uma bela homenagem da sétima arte. «Klimt», realizado por Raoul Ruiz e com as interpretações de John Malkovich, Veronica Ferres, Saffron Burrows e Nikolai Kinski estreará agora na Europa e imagino que em breve por aqui. Será uma oportunidade de conferir alguns detalhes biográficos do pintor, do seu processo de criação, da sua conturbada vida privada. Klimt talvez nem sonhasse com o impacto de sua obra com o passar dos séculos. Escreveu sem querer seu nome naquela tal lista e com letras diafanamente douradas.... Ainda bem que não somos seus contemporâneos e podemos apreciar com coloridos olhos benevolentes todo o talento das suas pinceladas fluídas, mágicas, resplandecentes...




2 comentários:

Anonimo ha detto...

Bem... já que eu vivo no pós-modernismo, não tenho que me preocupar com reconhecimento post mortem... ou tenho? :P

Eu só sei que posso tudo, que fatalmente terei meus quinze minutos de fama um dia, e que terei renome por algo que não está na minha arte, simplesmente porque o público e a crítica entendeu tudo errado. Vão dizer que eu to repetindo o que já disseram antes, que estou banalizando a porra do discurso, and so on.

Fora que, no atual contexto capitalista, dívida=crédito, então, eu posso morrer com todas as comodidades do mundo pós moderno. Serei o primeiro artista de futura vanguarda que deixou como legado um monte de joguinhos zerados. :P

Só sei de uma coisa: o único cânon ao qual estarei vinculado será o que eu usarei pra dar tiro nessa galerinha. :P

Anonimo ha detto...

De preferência, o cânon da Macross. :P