Acaba de ser lançado no EUA o documentário LEONARD COHEN I'M YOUR MAN, uma merecida homenagem a um grande poeta e ícone da contra-cultura que inspirou gerações O documentário, com direção de Lian Lunson , apresenta duas linhas narrativas , uma , compila performances e bastidores de um show em tributo ao cantor (Sidney , 2001) e que reuniu Nick Cave, Rufus Wainwright, Kate & Anna McGarrigle, Martha Wainwright, Beth Orton, Linda Thompson, Teddy Thompson, Jarvis Cocker,The Handsome Family, Julie Christensen e Perla Battala, contando ainda com uma versão de "Tower of Song" com o próprio Cohen e o U2. Já a outra, é construída a partir de depoimentos de fãs famosos, críticos e pessoas do circulo de relações do cantor que revelam segredos e refletem sobre sua personalidade, sua obra e o seu processo de criação.
Sua produção até agora rendeu nove livros (sete de poesia, dois romances) e 11 discos, incluindo Dear heather, seu mais recente CD, lançado em 2004. Cohen sempre transitou entre a música e a literatura, nem sempre recebendo o devido reconhecimento em nenhum dos dois campos, fato este que acabou por levá-lo a optar pela carreira de compositor. De fato, sua primeira canção "Suzanne", foi gravada pela cantora folk canadense Judy Collins em 1966. Dois anos depois e em função do reconhecimento obtido pela gravação , Cohen lança seu primeiro álbum, Songs of Leonard Cohen.
Leonard Cohen partilha com os grandes nomes da literatura a mesma matéria –prima : a paixão, o amor , as reviravoltas da condição humana e as questões cruciais de nosso tempo. Sua primeira canção, como tantas outras , parte de sua observação do mundo real, ele sempre conta uma história onde narra suas experiências, suas angústias , seus devaneios. A Suzanne da música existiu de fato, mas como era casada e, segundo Cohen, adorava o marido, só pode ser tocada com sua mente :
"Suzanne takes you down / To her place near the river / And she feeds you tea and oranges / And you Know that she will trust you / For you've touched her perfect body with your mind." (Suzanne - 1966)
E são justamente experiências de vida como essa que servem de inspiração para as suas canções . Aliás, a vida de Cohen engloba ricos e curiosos elementos como sua ambivalente religiosidade , já que ele, judeu de nascença,tornou-se monge budista durante alguns anos, morando em um templo , inclusive. Dos templos, ele passou às pensões e hotéis baratos, buscando isolamento e matéria prima para suas criações. Um desses hotéis foi o famoso Chelsea, reduto de artistas na década de 60 como Bob Dylan, Jimi Hendrix, William Burroughs, Andy Warhol (e tb o hotel onde Sid Vicius esfaqueou a namorada Nancy e o escritor Arthur C. Clarke escreveu "2001, Uma Odisséia no Espaço") . E foi no Chelsea que Cohen encontrou Janis Joplin e registrou suas impressões com relação à cantora na música "Chelsea Hotel n. 2":
"I remember you well in the Chelsea Hotel / You were famous your heart was a legend / You told me again you preferred handsome men / But for me you would make an exception" (Chelsea Hotel n. 2 - 1974)
Cohen sempre teve um espírito nômade , e sua transferência na década de 70 para a ilha de Hidra, na Grécia, onde passou sete anos escrevendo poemas e compondo música, o condenou ao esquecimento por parte do mercado americano . Ele só seria redescoberto pelo movimento pós-punk, na Inglaterra no começo dos anos oitenta, do qual fizeram parte nomes como Morrisey, Echo and The Bunnymen, Nick Cave e Jesus and Mary Chain e que passaram a fazer covers de músicas do cantor. Em 1988, os covers são registrados no I'm Your Fan - um álbum-homenagem com versões de R.E.M., Pixies, John Cale e Nick Cave, entre outros, para antigos sucessos de Cohen. Peter Gabriel, Bono, Sting, Suzanne Vega e outros também deram sua contribuição á celebração da obra de Cohen no álbum Tower of Songs.
Com seu nome sendo celebrado no mundo todo, e tornando-se cada vez mais habitué de trilhas sonoras de filmes de sucesso (Natural Born Killers, de Oliver Stone , por exemplo), toda uma nova geração pôde ter acesso à poesia de Cohen, agora com uma voz bem mais rouca (fruto de milhares de maços de cigarro, segundo ele) mas profunda e sexy, bem diferente da melódica e delicada gravação de "So long Marianne" de 1968.
Na casa dos 70, Cohen pode agora contar com a serenidade que seus cabelos brancos e sua longa trajetória o trouxeram , e só posso concordar com ele quando escuto aquela voz quente sussurrando :
"If you want a lover/I'll do anything you ask me to/And if you want another kind of love/I'll wear a mask for you/If you want a partner/Take my hand/Or if you want to strike me down in anger/Here I stand/I'm your man" (I'm your man, 1988)
Ele é com certeza o meu homem, pelo menos , o do meu mp3 player…
mercoledì, luglio 19, 2006
Ele é o meu homem
Ruminado por Bellit às 6:14 PM 3 comentários
venerdì, luglio 07, 2006
A meio metro do Metrô
Já faz algumas décadas que a população das grandes cidades reconhece o metrô como uma solução inteligente para o problema do transporte público. O metrô é sem dúvida o meio mais rápido , seguro, econômico e não-poluente para se deslocar de um lado para o outro em grandes metrópoles .
Transportando diariamente cerca de 2,8 milhões de usuários num único dia, o Metrô de São Paulo conta com quatro linhas e é o quinto do mundo em passageiros transportados ( 8,8 milhões de passageiros transportados por ano/ km de linha).Em primeiro lugar , vem o Metrô de Moscou, (12 milhões); seguido pelo de Tóquio (11,2 milhões) de passageiros; Hong Kong (10 milhões de passageiros) ; e Seul (9,6 milhões) de passageiros transportados por ano/ km de linha.
Com o uso do Bilhete Único, que permite o uso integrado dos ônibus municipais de São Paulo com a rede de trens e metrô pela tarifa de R$ 3,00 (desconto de R$ 1,10), existe a previsão de que o Metrô paulistano pule para a terceira posição no mundo entre os sistemas sobre trilhos com a maior proporção de passageiros transportados em relação ao tamanho da rede. Sim, pois mesmo sendo São Paulo a quarta maior cidade do mundo, o seu sistema metroviário conta com apenas 60 km, contra mais de 300 km em Londres, Paris ou Nova York, por exemplo.
Claro que existem tardias (e polêmicas ) obras de expansão , mas até o término destas, o sistema estará cada mais saturado, ultrapassando o limite considerado "suportável" de até seis pessoas por m² . Atualmente, nos horários de pico, os vagões têm transportado mais de oito passageiros por m²... Um sufoco daqueles , diga-se de passagem. Haja Rexona que resista....Pobre boiada, ali espremida como se estivesse indo para o abate !
E com esse bando de ruminantes a mais indo e vindo, era de se esperar que aumentasse a ocorrência de incidentes (e acidentes). Porém, o Metrô sempre manteve a política do "abafa o caso" , para manter seu alto índice de aprovação do usuário. Assim, quando ouvimos mensagens pelos alto-falantes como "este carro estará sendo recolhido por necessidades operacionais" ou " os trens estão circulando com maior tempo de parada e velocidade reduzida " sempre há algum motivo torpe por trás ....Alguma merda ocorreu e eles precisam dar uma desculpa técnica.
E percebi que nos últimos tempos essas mensagens estão cada vez mais freqüentes , indício de problemas , muitos problemas.
Eu, particularmente, destaco duas situações em particular . Uma ocorreu já há algum tempo , a outra hoje cedo, e acho que até posso chamá-la de "musa inspiradora" deste postzinho...J Então vamos lá...
Pois bem, estava lá eu , mucchina esperando o metrô , atrasada para o trabalho quando eis que ele chega. Sento-me no banquinho, faço aquela típica cara de vaca atolada e espero as portas se fecharem. Mas elas não se fecham. Se passa um minuto, se passam dois , minutos , se passam seis minutos. E nada.
Pensei cá com minhas mosquinhas : " A Lei de Murphy não perdoa" . Então escuto a voz do condutor : "Este carro está parado por problemas na rede. O serviço será normalizado em dez minutos " . Ok, o que são dez minutos de atraso a mais ou a menos quando se está fudidamente atrasado mesmo?????
E lá se foram mais dez minutos e nada. Eis que a voz do condutor surge novamente e despeja assim, como quem diz as horas : "O trem está parado devido a presença de usuário na linha na estação Jardim São Paulo . A situação será normalizada dentro de dez minutos". Ai caramba! Presença de usuário na linha???Managgia! Che casino! Era uma invasão do MST , o movimento dos sem trilhos???? Ou talvez algum obsessivo compulsivo contando os dormentes da linha Azul? Não, só poderia ser duas coisas: ou alguém caiu na linha e espera ser removido ou alguém se atirou na linha e será removido....Oh minha Santa Mimosa , protetora das muccas, me socorra. E lá se foram mais de vinte minutos esperando o usuário ter sua presença removida .
Ao chegar no trabalho, procurei desesperadamente por alguma notícia, para enfim desvendar o "mistério do usuário", mas nada , nenhuma notinha sobre algum maníaco-suicida ou sobre algum acidente. Foi quando um colega me revelou que o metrô não divulga para imprensa nada de desagradável que ocorra em seu interior. Mas é claro que algumas coisas acabam vazando , já que outros ruminantes como eu acabam mugindo na superfície o que ocorre dentro dos túneis.
E o que eu vi hoje merece um longo mugido , já que vi o quanto o metrô é ineficiente em emergências. Lá estava eu de novo atrasada (isso tá virando um péssimo hábito) quando chegou o metrô . Como é estação final, é de hábito todo mundo descer, as portas ficam abertas por um certo tempo , ouve-se o habitual sinal e elas se fecham. Porém, hoje , as pessoas desceram e quando os que iriam embarcar se encaminhavam para as portas elas se fecharam, repentinamente. Por pouco uma delas não guilhotinou a senhora que estava na minha frente. A mesma sorte não teve a pobre velhinha a minha direita , já que a porta a surpreendeu com tudo, pegando seu corpo (ou sua perna, não deu para ver) e a derrubando com força. Ela ficou lá , caída , chorando de dor sem conseguir se levantar . Prontamente fomos atendê-la , mas ela não conseguia se mexer e chorava . Fiquei ali, num misto de choque e revolta, e nenhum funcionário do metrô aparecia . Ninguém além das pessoas que escaparam das portas assassinas prestava assistência à velhinha, que teve suas coisinhas espalhadas pelo chão, já que o impacto foi tão grande a ponto de fazê-la derrubar as sacolas que carregava.
E mais ou menos uns dez minutos depois apareceram dois seguranças brucutus do metrô, puxando a velhinha pelo braço para levantá-la . Mas não dava , a coisa foi séria , ela havia caído toda retorcida... Algumas pessoas reclamavam, muitas ficaram indiferentes , outras , diante da demora , foram para a outra plataforma e pegaram outro metrô.
O mais absurdo é que o metrô ficou parado na plataforma o tempo todo até a chegada dos brucutus . O mais surpreendente é que com a velhinha ainda deitada no chão,ultrapassando visivelmente a tal faixa amarela, o condutor psicopata fechou as portas e partiu. Fiquei p.... da cara, mas C'est la vie...
E não é que lá pelas tantas o condutor anuncia que o trem será recolhido na próxima estação. E lá vai mais uma prece a minha Santa Mimosa. A boiada toda desceu e o psico- condutor seguiu . E torço para que o comunicado "Este trem será recolhido na próxima estação por exigência do sistema", dentro da linguagem codificada dos metroviários, possa vir a significar , na realidade, "estou indo até a chefia tomar uma baita de um xixi pela cagada que acabei de fazer... ".
Será ???
Ruminado por Bellit às 5:06 PM 2 comentários
mercoledì, luglio 05, 2006
Breve passagem pelos pastos do sul
Meus cascos me conduziram de volta ao curral-lar . Ou o que sobrou dele , já que minha viagem teve o objetivo de acabar com o que restava de minha bovina “presença” em solo natal. Traduzindo: retirar todos os meus pertences do meu antigo curral-lar e empilhá-los em uma quarto no curral da minha amada mucca –nonna . Minhas coisinhas , minhas pequenas coisinhas que não tinha noção de que fossem tantas...Sim, eu preciso de um curral que não seja provisório para dar a elas um espaço digno. A elas e a mim, claro....
Não foi uma tarefa tranqüila, foi morosa, dolorosa, estressante e ...solitária, muito solitária (excluindo a noite em que eu e Sada enchemos a cara de pizza). Procurei não ruminar muito a respeito do que se sucedeu, para não ficar melancólica .E acho que deu quase certo.Foi quase , juro. Não desabei nem quando mucca mãe chorava fazendo chantagens no telefone... Isso é um avanço e tanto. Mas prometo que um dia eu aprendo de vez a ser mais racional e objetiva e mandar o resto da boiada pastar ...
Porém, nem tudo foi absurdamente chato e difícil. A viagem deve alguns pontos positivos, já que pude rever a família , minha amigona do peito e de quebra arrumar mais uma marca para o meu couro. Para que eu me distinga no meio da boiada , claro....
E agora estou aqui, e um tantão de mim lá ...E ao mesmo tempo em lugar nenhum...Quando estou lá me sinto um boi fora da boiada, quando estou aqui idem...
Ser uma mucca nômade não é para qualquer um.E digo isso pois já sou praticamente PHD no assunto.
Quem sabe , até o ano que vem eu já estava no meu curral lar , senão definitivo ao menos privativo, seja lá , aqui, onde for .Só quero poder pastar a vontade , sem idas e vindas . Sei que viver é isso mesmo, um caminho incerto, cheio de curvas , que vc não sabe para onde conduzem. Mas um dia eu chego lá ....
Cruzem as patinhas por mim...
Ruminado por Bellit às 6:54 PM 2 comentários