Neste final de semana assisti ao filme Mar Adentro , dirigido por Alejandro Amenábar, com o maravilhoso Javier Barden. O filme é baseado na vida de Ramón Sampedro , um marinheiro, que amava o mar , a liberdade e que num mergulho fatal se torna tetraplégico, preso a uma cama e dependendo da família por vinte e oito longos e penosos anos. Sampedro ganhou notoriedade ao lutar na justiça pelo direito de realizar a eutanásia e pelos seus poemas .
Confesso que relutei muito em assistir esse filme, fiquei com medo me deparar de novo com mais um filme deprimente, da lista onde se encontra Dançando na Chuva , de Lars Von Trier . Sim, eu tenho uma lista desses filmes , aqueles aos quais uma única vez basta , pois vc nunca escapa ileso por mais perfeita e maravilhosa que seja sua vida. São filmes que deixam vc estático diante de uma dor e de um sofrimento tão absolutos, a ponto de que vc se questiona o por quê de passar por uma experiência daquelas em nome da sétima arte.
Já o filme de Amenábar consegue abordar um tema polêmico, dor,sofrimento e morte em um tom sensível, poético , dispensando ao filme um tratamento cuidadoso, artístico. Há uma total isenção por parte do diretor com relação às opiniões diversas a respeito da escolha de Ramón, nenhuma ele privilegia, poupando o filme daquela sensação de documentário panfletário a favor ou contra a eutanásia. Mas o filme não se concentra apenas nessa discussão , ele aborda questões profundas como relacionamentos familiares , o conceito de vida, de felicidade (que não é único e é extremamente relativo), a imaginação como meio de libertar o corpo das privações a ele impostas . E por falar em imaginação , deixo vcs com um belíssimo poema de Ramón Sampedro, um homem que , segundo sua opinião, viveu por um breve período de tempo , mas que alcançou absolutamente sem querer a eternidade:
Mar Adentro (Ramón Sampedro)
Mar adentro, mar adentro.
Y en la ingravidez del fondo
donde se cumplen los sueños
se juntan dos voluntades
para cumplir un deseo.
Un beso enciende la vida
con un relámpago y un trueno
y en una metamorfosismi
cuerpo no es ya mi cuerpo,
es como penetrar al centro del universo.
El abrazo más puerily
el más puro de los besos
hasta vernos reducidos
en un único deseo.
Tu mirada y mi mirada
como un eco repitiendo, sin palabras
"más adentro", "más adentro"
hasta el más allá del todo
por la sangre y por los huesos.
Pero me despierto siempre
y siempre quiero estar muerto,
para seguir con mi boca
enredada en tus cabellos.
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