venerdì, dicembre 09, 2011

Divirta-se na bolha , mas deixe o cérebro antes de entrar...

Acabei de ler dois artigos e ambos abordam um assunto ao qual todos os usuários da Internet deveriam, pelo menos, dedicar alguns nanos segundos de reflexão.Não que as discussões propostas pelos autores sejam grandes novidades: na verdade, não o são.A questão é que pouquíssimas pessoas sequer perceberam que poderiam existir tais argumentos.E é justamente aí que mora o perigo.Afinal, não há como negar que o uso da internet e das memórias eletrônicas têm formado/emburrecendo uma geração. Como?Muito simples. Apelando para exemplos práticos, você não se dá mais ao trabalho de memorizar mais o telefone de ninguém, pois o celular faz isso por vc.E nem precisa se preocupar como se escreve "exceção" porque o corretor ortográfico está ali para corrigir os erros.Ah, e vc acaba obtendo informações sobre seus amigos através do Facebook, assimilando-as como uma série de dados indistintos, desprovidos de emoções e de relações factuais e linguísticas de interação. E tudo ocorre de forma tão imperceptível, automática, que para confirmar alguma informação ou até mesmo para atribuir um juízo de valor sobre algo, o primeiro passo é  "jogar no Google" antes mesmo de tentar forçar a sua própria  memória para obter ou julgar aquele dado. (Sim, eu não nego que sou uma saudosista, pois sinto falta dos bons tempos em que corríamos para uma estante de livros e não para um teclado de computador...)
Pois bem, voltando aos artigos, o  primeiro, intitulado Lobotomia Globale  refere a questão da personalização dos sites de busca, mas especificamente do Google.Não é de hoje que é possível perceber que, ao buscar uma determinada informação, até mesmo a ordem das páginas relacionadas levará em questão não só minhas buscas anteriores(além do irritante recurso de autocompletar que me faz buscar sem querer um monte de absurdos) bem como minha localização e perfil de usuário e até as lojas em que andei comprando. É por isso que os computadores mostram resultados diferentes para as mesmíssimas palavras pesquisadas.Faça um teste: coloque uma palavra qualquer no seu pc pessoal e em outro compartilhado . A apresentação dos resultados e até mesmo o número de ocorrências serão diversos.
O que o artigo em questão se propõe a discutir é justamente isso. As diferenças baseadas em perfis de utilização. O que está por trás disso é a tão bem dissimulada personalização, vendida como algo que visa deixar o seu computar com a "sua cara" . Ou seja, quando vc acessa algo, uma música, um vídeo, um e-mail, são capturadas as suas informações e o site de busca passa a "propor" uma série de sites correlacionados com algo que poderia interessar aquele usuário específico em virtude do conteúdo acessado.Só que , na verdade,a meu ver,  isso se trata de uma invasão!Consentida, claro. Nós deixamos, numa boa, mesmo!
Pouco a pouco são impostos conteúdos, influenciando as suas escolhas, induzindo o consumo de determinados produtos e serviços, limitando a sua capacidade de discernir sobre os fatos. E não é só isso. Se essa invasão silenciosa permite saber o que eu consumo, leio, ouço , por que não supor o que eu penso? Teoria da Conspiração??? Não, já que os programadores se tornaram uma espécie de "porteiros " que passaram a decidir quais são as origens dos conteúdos que passam a entrar no meu computador.
Além disso, limitar o meu universo a apenas aquilo que eu conheço, deixando-me em uma situação de conforto,de familiaridade, acaba prejudicando até mesmo o meu senso crítico, já que me impede de enxergar além da bolha virtual que o Google acabou criando, em conformidade com a minhas escolhas. Ter acesso as mais diferentes e divergentes opiniões,  manifestações e expressões culturais foi o que fez com que a Internet fosse intitulada Aldeia global. Só que, infelizmente, os homens dos  bits e bytes (e milhões) querem deixar cada um de nós trancado na sua própria oca, deixando que algoritmos guiem as nossas escolhas.
Já o segundo artigo, ataca outro tubarão da net: o Facebook. Ou melhor, critica um "novo conceito" de uso da Internet defendido pelo criador do site de relacionamentos,  Mark Zuckerberg. A bola da vez atende pelo nome de "compartilhamento sem fricção" , ou seja o registro e compartilhamento automático com seus amigos dos seus produtos favoritos(filmes, músicas,livros e artigos lidos), permitindo que seus amigos "descubram mais conteúdo interessante de forma automática" . E isso sem precisar "curtir" nada... 
Claro que ninguém é obrigado a fazer uso do Facebook , mas independente de ser ou não usuário, cabe discutir a ideologia por trás do conceito, já que compartilhamos todos o mesmo ciberespaço. Resistir ao fato de ter tudo compartilhado é lidar com o medo de uma " vigilância onipresente".E mais. É encaixar cada usuário no que Eli Pariser, o autor do artigo anterior, denomina "má teoria de personalidade". As empresas iriam partir de "suposições incompletas sobre quem somos", baseando-se em nossos itens de consumo (livros, músicas,filmes) e buscando nos enquadrar em alguma categoria " pré-existente de marketing", fornecendo assim conteúdo apreciado apenas por outros indivíduos da mesma categoria. Mas uma vez,nos colocam dentro de uma bolha virtual. 
E, ao que tudo indica, parece que nos deixar dentro da bolha se tornou uma tendência. 
Que motivações escusas podem haver por trás da tal política de funcionalidade, praticidade e "perfil amigável"? Será fazer com que todos nós venhamos a nos sentir  , como o autor do artigo bem coloca , " a pior paródia do Vale do Silício, onde todo mundo supostamente sorri e se sente bacana o tempo todo"?

E como navegar é preciso, aprenda a nadar antes que seja tarde.E com cautela, porque os oceanos virtuais estão cheios de tubarões...

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